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Crítica: O Conto da Aia

Edição mais recente foi lançada pela Rocco em 2017

O livro O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale) é uma distopia onde o governo dos Estados Unidos se tornou teocrático, não há mais congresso e a constituição caiu. As mulheres são as principais atingidas: não podem mais ler, trabalhar e têm suas contas bancárias congeladas. As homossexuais, viúvas, adúlteras e feministas são enviadas para colônias afastadas onde o nível de radiação pode matar. As mulheres férteis? Elas viram propriedade do governo, usadas como escravas de procriação para homens poderosos.

Veja também: Leia o review na HQ Black Hammer

A história já ganhou uma adaptação no formato de filme em 1990, com o título em português “A Decadência de uma Espécie”. Mas se tornou pop ao ser adaptada como série pela Hulu, serviço de streaming oferecido no momento apenas nos Estados Unidos e no Japão.

O Conto da Aia

Acompanhamos essa realidade chocante aos olhos de Offred, protagonista da história. Através de seus pensamentos, conhecemos a angústia que é viver nesse mundo enquanto a narrativa também volta no tempo, de forma muito natural, para explicar ao leitor como a nação chegou nesse estado.

A questão da leitura ser um ato proibido é algo frequentemente abordado em distopias, tendo como exemplo, 1984 de George Orwell e Fahrenheit 451 de Ray Bradbury. Por que isso? Porque o ser humano que lê, é capaz de desenvolver a habilidade de refletir sobre o próprio ser e a sociedade. E, o mais perigoso aos olhos dos que estão no poder: a habilidade de questionar o estado das coisas.

Apesar de mostrar um cenário aparentemente impossível, Margaret Atwood, autora do livro, se inspirou em atitudes tomadas por governos totalitários ao longo da história. Na questão da vestimenta que as Aias são obrigadas a usar, mantos que cobrem todo o corpo e um chapéu que não as permite olhar para os lados, é possível ver a semelhança de quando as iranianas tiveram que cobrir seus corpos pós-revolução islâmica.

O Conto da Aia

Outro exemplo, é transformação do indivíduo como objeto, menos que um ser humano, recurso que foi praticado pelo governo nazista. A República de Gilead, no que se transformou os EUA nessa história, justifica suas políticas ditatoriais com escrituras bíblicas deturpadas; situação que também já percebemos em governos teocráticos.

A primeira publicação é de 1985. Essa resenha foi feita com base na edição de 2017, lançada no Brasil pela Editora Rocco, com tradução de Ana Deiró. Mesmo tendo sido escrito há muito tempo, O Conto da Aia se faz atual. É uma crítica sobre a nossa sociedade extremamente machista, evidenciando a violência contra a mulher, contra o seu corpo e sua mente. Também é um alerta para os sinais do conservadorismo e para onde ele pode nos levar.

Sendo uma história densa, tem que ter estômago. Não há muitos diálogos e interações. Na maior parte Offred está calada, mas a sua mente está acelerada, tornando os textos longos e dissertativos. Felizmente, Margaret consegue nos apresentar uma narrativa muito bem escrita e bem detalhada, não deixando espaço para uma interpretação dúbia sobre um assunto tão sério.

Beatriz Figueiredo

Meu nome é Beatriz, sou gastrônoma e estudante de Letras. No meio dessas duas formações, um dos meus hobbies preferido é ir ao cinema. Procuro frequentemente melhorar a minha compreensão sobre a sétima arte, para escrever aqui os meus dois centavos sobre o assunto.

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