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Crítica: O Mundo de Aisha

A HQ apresenta a realidade de um país dominado pela cultura misógina

A HQ de Ugo Bertotti se preocupa mais em informar do que apenas contar uma história que cative o leitor. Mundo de Aisha: A Revolução Silenciosa das Mulheres no Iêmen, baseada em registros feitos pela fotojornalista e documentarista Agnes Montanari, nos apresenta uma realidade chocante em que vive as mulheres de um país dominado pela cultura misógina e governado segundo os preceitos de uma religião.

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São várias histórias reais de mulheres iemenitas. Muitas delas são obrigadas a se casarem aos 13 anos com homens de 40! Porque a família não tem como sustentá-las. E com a violência que sofrem em casa, muitas não chegam à maioridade; quase todas são proibidas de estudar. Algumas conseguem fugir dos abusos domésticos, mas acabam sendo rechaçadas pela sociedade por terem abandonado o marido.

O que mais impressiona em “O Mundo de Aisha”, é que uma personagem fala que nós, ocidentais, nos importamos muito por elas usarem o “niqab” (véu que as cobre quase que por inteiro) e que isso é o menor dos problemas. Na verdade, elas não se importam em usar, gostam das tradições e da religião.

O Mundo de Aisha

Na realidade, o que mais as incomodam é não poderem estudar, não conseguirem ser donas da própria vida, não terem voz na sociedade e serem apenas fantasmas. Algumas conseguem vencer em meio a tanta opressão, mulheres revolucionárias que não mudaram o mundo, mas mudaram o mundo em que elas viviam. Entretanto, aos poucos elas vão conseguindo espaço, e por isso precisa ser uma revolução silenciosa, qualquer atitude alarmante e radical é rapidamente reprimida com mais vigor.

O traço é bastante pesado, mas essa é a intenção do artista, para combinar com a aflição que a HQ quer nos passar. Mesmo assim, o desenho não deixa de ser detalhista. Já a narrativa perde um pouco o ritmo com as transições de uma história para outra, mas nada que desanime a continuar, pois não fica lento, e sim heterogêneo. Algumas palavras são ditas em árabe; não influenciam o enredo, mas ajudam na imersão para compreender a cultura do país.

O Mundo de Aisha emociona ao mostrar o sofrimento destas mulheres quando elas ainda estão no útero da mãe e a luta que elas precisam travar durante toda uma vida. A HQ é um lançamento independente da editora Nemo, tem 144 páginas em p&b, tamanho 17 x 24 cm em brochura e preço de capa de R$ 39,90.

Beatriz Figueiredo

Meu nome é Beatriz, sou gastrônoma e estudante de Letras. No meio dessas duas formações, um dos meus hobbies preferido é ir ao cinema. Procuro frequentemente melhorar a minha compreensão sobre a sétima arte, para escrever aqui os meus dois centavos sobre o assunto.

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