Crítica da HQ Descender: Estrelas de lata

Obra de Jeff Lemire está à venda no Brasil

O primeiro volume de Descender nos apresenta um rico universo cyberpunk recheado por personagens carismáticos, além de uma ambientação própria muito bem construída. A obra de Jeff Lemire foi desenhada por Dustin Nguyen, traduzida por Fernando Scheibe e lançada no Brasil pela Editora Intrínseca.

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O leitor pode reconhecer vários argumentos da cultura pop costurados nesse roteiro, como o filme IA (Inteligência Artificial, 2001), além de uma pitada muito leve de “Star Wars”. Porém, o que sobressai aqui é a cultura cyberpunk no último nível. Uma mistura de Ópera Espacial com um sci-fi denso e algumas cenas bizarras para criar um equilíbrio.

O volume 1 serve como uma introdução a este universo criado por Jeff Lemire, que está muitos anos à frente da nossa era. Assim, conhecemos uma organização entre planetas, como a sociedade se organiza e até como os robôs acabam sendo dividido em castas, pelo seu grau de importância e proximidade com os humanos.

Desta maneira, vemos a trama se desenrolar do ponto de vista do Tim-21, um menino robô que serve como um irmão acompanhante para outras crianças. Sua estrutura única, acaba atraindo o interesse de mercadores, cientistas e militares. E a partir deste ponto, uma corrida de gato e rato tem início, ao mesmo tempo que conhecemos algumas localidades e civilizações.

Me atrai muito o modo como a história da HQ traz elementos de um passado remoto para justificar algumas decisões no presente dos personagens, criando uma intrincada trama de causa e efeito, típico da ficção científica de qualidade. Tecnologias do passado e do presente se misturam, e estou realmente curioso em entender para onde isso tudo vai levar os protagonistas.

O estilo em aquarela da arte de Dustin Nguyen ajuda a compor o tom de mistério de Descender: Estrelas de Lata. O artista usa cores fortes para destacar alguns elementos nos desenhos, criando uma forma única. Sendo o vermelho a sua cor preferida, é fácil perceber que a obra tem o mesmo tom do início ao fim.

Particularmente não gosto como algumas cenas de violência explícita foram colocadas para justificar o andamento da história. Ficou totalmente desnecessário, exagerado e fora de propósito. Chocar a audiência, para criar uma imediata sensação de repulsa, nunca foi um recurso narrativo do qual eu gostasse. Ficou fora de tom, pois esta HQ não pede isso.

Apesar de ter uma certa dose de ação e conflitos, e uma linguagem simples, Descender: Estrelas de Lata pode ser melhor apreciada por quem realmente curte “cyberpunk”, com uma boa pitada dos conceitos de Isaac Asimov. Neste caso, é um verdadeiro deleite. Estou genuinamente ansioso para ler o segundo volume.

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